Papiro tem potencial de despoluir águas contaminadas por agrotóxicos, aponta estudo da Fatec
23/02/2025
(Foto: Reprodução) Pesquisa realizada em Jaboticabal, interior de São Paulo, mostra que sistema de tratamento natural com a planta foi capaz de reduzir em 80% a incidência de substância associada a poluição de rios. Sistema criado na Fatec busca melhorar a qualidade de água
Uma planta conhecida na história por ter dado base ao material precursor do papel está no centro dos estudos da Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Jaboticabal, no interior de São Paulo, como uma potencial solução para amenizar a contaminação de agrotóxicos e fertilizantes agrícolas nos rios.
Nos primeiros testes, a Cyperus papyrus, mais conhecida como papiro, foi capaz de reduzir em 80% os resíduos de nitrogênio amoniacal, substância que, em alta incidência, está associada à contaminação aquática.
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As primeiras conclusões fazem parte de um estudo que visa criar um sistema de tratamento natural e barato, principalmente em áreas rurais não contempladas pelo tratamento urbano.
"O principal interesse é tratar essa água de uma forma sustentável, de forma barata, que a gente consiga depois reaproveitar essas plantas, porque também não adianta escolher uma planta que seria sustentável para depois não conseguir aproveitar", afirma a pesquisadora Maíza de Lima Bueno, responsável pelo estudo.
Maíza de Lima Bueno pesquisou uso de papiro para despoluir rios de agrotóxicos no interior de São Paulo
Valdinei Malaguti/EPTV
Poluição de defensivos e fertilizantes
Gestora ambiental e mestranda em microbiologia agropecuária, Maíza iniciou a pesquisa motivada a descobrir meios de reduzir os impactos causados principalmente pelo despejo de nitrogênio e fósforo, presentes em defensivos e fertilizantes, nas águas dos rios, sobretudo em áreas rurais.
Segundo a pesquisadora, quando em contato com a água, essas substâncias proporcionam um processo de eutrofização, um excesso de nutrientes que acaba tendo consequências como a perda da oxigenação de rios.
"Nessa eutrofização os microorganismos presentes na água vão fazer o consumo do oxigênio. Consumindo o oxigênio, acaba proliferando mais os microorganismos, porque a gente tem esse aporte de nutrientes, e eles usam isso como fonte de energia pra se reproduzir. Nessa reprodução, a gente acaba baixando o oxigênio da água, onde a gente vê aquela parte esverdeada", explica.
O papiro e as 'wetlands'
Pensando em uma solução que seja altamente reproduzível, Maíza projetou um sistema de tratamento natural concebido para áreas alagadas, as "wetlands", na transição entre rios e suas margens, que ajuda a amenizar a carga de nutrientes que chega ao curso d'água.
Nesse contexto, o papiro, associado a camadas de pedra e areia, entrou como principal agente despoluidor, por ter vantagens como crescimento rápido, além do potencial de ser aproveitado posteriormente para fins de bioenergia e em produtos de higiene pessoal, por exemplo.
"A proposta do papiro é que ele faz uma regeneração muito rápida dessas áreas e quando essas áreas são degradadas ali o solo está sem a microbiota. A gente precisa de alguma forma começar a reviver esse solo, então a gente usa sempre plantas menores, e conseguir fazer a recuperação da área", explica.
Papiro, planta que dava base para o material que antecedeu o papel na história da humanidade, é testada para amenizar contaminação de agrotóxicos em Jaboticabal (SP).
Valdinei Malaguti/EPTV
Como foram os testes?
Durante meses, a pesquisadora fez coletas periódicas no Córrego Cerradinho, em Jaboticabal, em uma área distante do centro urbano, mas que recebia poluentes da zona rural. Nessas análises, o principal objetivo foi detectar os níveis de substâncias como o nitrogênio amoniacal, que são fortes indicativos de poluição.
Em outro momento do estudo, essa água era colocada nesses sistemas de tratamento com o papiro, e, mais uma vez, voltava a ser analisada.
A pesquisadora Maíza de Lima Bueno, responsável por estudo em Jaboticabal que visa reduzir contaminação de agrotóxicos nas águas dos rios.
Valdinei Malaguti/EPTV
"Teve momentos do experimento que teve uma redução de remoção de até 10 vezes. Então a gente teve 80% de remoção desses aportes, principalmente do nitrogênio amoniacal", aponta Maíza.
O objetivo é que, nas próximas fases, o estudo seja levado a campo. Mas os primeiros resultados indicam um caminho promissor, segundo a pesquisadora.
"Esse sistema de uso de plantas foi baseado principalmente em observações do que já acontece na natureza. Então, naturalmente, todos os problemas que nós temos relacionados à ação humana no meio ambiente a gente consegue ter soluções baseadas na própria natureza", argumenta.
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